Reflexão
Crítica e Auto avaliação
Como
qualquer outra, cada pessoa com dificuldades cognitivas, visuais e/ou motoras é
ÚNICA, e a sua especificidade resulta tanto de fatores genéticos, como da
história de vida de cada um, das suas vivências, do apoio
familiar/terapêutico/educativo que recebeu e de muitos outros aspetos.
Fazendo
uma análise dos conteúdos lecionados ao longo dos vários MÓDULOS constata-se
uma abordagem deveras significativa e pertinente, em relação a toda a problemática
da Educação Inclusiva e Funcional, Tecnologias e Recursos Educativos,
intervenientes no contexto próximo da criança com Necessidades Educativas
Especiais (NEE´s). Sobre toda esta temática verifica-se que o grupo social
familiar é o elo fulcral nas relações afetivas e de desenvolvimento da
criança/jovem, quer em termos da organização do processo educativo e definição
das respetivas adequações curriculares escolares e currículos funcionais, quer
em termos de desenvolvimento das competências da criança/jovem com défice
cognitivo. O seu desenvolvimento visa, como proposta de ensino, a melhoria da
qualidade de vida diária dos nossos educandos em especial as crianças/jovem com
dificuldades de desenvolvimento intelectual moderado ou mesmo severo. Não deve
ser concebido de maneira a que seja o aluno a adaptar-se aos moldes que ele
oferece, mas deve ser entendido como um campo aberto à diversidade, não devendo
ser compreendida no sentido de que cada aluno poderia aprender coisas
diferentes, mas sim de maneiras diferentes e que possibilitem a preparação dos
alunos para as suas necessidades presentes e futuras.
Assim, educar, ensinar e instruir para a vida
prática, proporcionando o desenvolvimento de comportamento e atitude adequados
para o convívio familiar e social melhorando assim a sua qualidade de vida,
deve ser o lema que irá preparar as crianças/jovens para a vida ativa futura e
para o exercício pleno da cidadania, proporcionando atividades educativas e
estratégias aos educadores para o conhecimento e desenvolvimento das
habilidades funcionais que eles transportam, sendo importantes para tornar a
pessoa com deficiência mental e intelectual independente e produtiva, conforme
as suas possibilidades na vida escolar, familiar e social. Com efeito, existe a
necessidade de criar currículos capazes de promover a autonomia e uma transição
harmoniosa para a vida adulta. Capazes em suma, de promover a qualidade de vida
de pessoas com dificuldades intelectuais, minimizando as suas dificuldades na
integração familiar e social e no mundo laboral, apoiando-os de uma forma
equilibrada, permitindo desenvolver as várias atividades em função da sua
idade cronológica e não mental.
Neste
contexto, devemos valorizar os nossos alunos com necessidades educativas
especiais pelas suas habilidades e não pelas suas limitações, através da intervenção
pedagógica ao nível do acompanhamento da aplicabilidade de atividades
contextualizadas, evidenciando a vivência das tarefas do quotidiano no ambiente
escolar, quer nas atividades de vida prática, quer nas atividades de vida
diária, incluindo não só o asseio corporal e cuidados domésticos mas também
atividades relacionadas ao lazer, transporte e vida social, através de ações
conjuntas com a família e comunidade. Com estes procedimentos, posturas e uma
atitude positiva, considerando-o um ser ativo, capaz de cuidar de suas
necessidades pessoais e colaborar nas atividades da casa e na comunidade, estamos
a contribuir para ajudar o nosso educando a ser o mais independente possível na
aquisição de hábitos e atitudes essenciais para a vida possibilitando que se
torne útil e participante em seu meio familiar e social.
Se
antigamente, as crianças com limitações intelectuais, moderadas ou severas,
eram consideradas incapazes de produzir aprendizagem, sendo-lhes atribuído
apenas proteção e cuidado, hoje, o sistema educacional ao proporcionar várias
oportunidades aos nossos alunos e adolescentes com idade escolar, levanta um
conjunto de dificuldades ao delinearmos o currículo para esses discentes, em
que o foco incide no desenvolvimento das suas habilidades mais relevantes da
via quotidiana diária, permitindo que ele participe, o mais independentemente
possível, na comunidade em que está inserido, como é preconizado na Declaração
de Salamanca de 1994, ao afirmar “os jovens com necessidades educativas especiais devem ser
ajudados para fazerem uma efetiva transição da escola para a vida adulta. As
escolas devem apoiá-los a tornarem-se economicamente ativos e dotá-los com as
competências necessárias à vida diária, oferecendo formação em competências que
respondam às exigências sociais e de comunicação e às expectativas da vida
adulta”. Desta forma, devem ser preparados no domínio das
suas competências, para que lhes seja permitido viver numa casa em ambiente
familiar e não numa instituição, frequentar a escola com os seus parceiros,
familiares e amigos enraizada no seu contexto familiar e local, interagir com
todo o tipo de pessoas e não com aquelas que apresentam as mesmas
características, usufruir dos recursos da comunidade, tomar decisões da sua
vida pessoas e social sem depender da decisão alheia.
Para o efeito e de acordo com o preconizado no D.L. nº
3/2008, onde se destaca a importância da promoção da Educação Inclusiva, é
necessário que se desenvolvam estratégias várias que permitam uma melhor
integração do aluno NEE´s, quer ao nível do pessoal docente, ao nível do
pessoal auxiliar, quer ao nível da comunidade em geral, sensibilizando-os para
a necessidade de todos nós sermos responsáveis pelo todo e não pelo individual,
combatendo-se deste modo, a exclusão que deriva da ignorância, adotando-se o
lema “CONHECER PARA INCLUIR”. Ao colaborar e informar os vários público alvo,
desde Pais e Encarregados de Educação a todos os intervenientes no processo
educativo, estamos a contribuir para a sua melhoria continua. Em virtude de ser
um processo dinâmico e permanente, pretende-se que se estabeleça uma estreita
colaboração com as famílias, que se utilizem os recursos comunitários e
educativos para trabalhar as competências e pô-las em prática, se utilizem os
espaços escolares, que se impeça ou mesmo minimize que os obstáculos de ordem
técnica ou material possam impedir a implementação dos currículos e
desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos NEE´s.
No plano da transição para o mercado de trabalho
verifica-se a existência de um processo de adaptação contínuo onde as várias
variáveis presentes, de carácter permanente e dinâmico, vinculam o indivíduo ao
longo da sua vida. Este processo de orientação social implica a mudança de
papel na sociedade e permitir uma melhor integração social, nomeadamente, no seu
relacionamento com os outros, criando a necessidade uma nova escala
de tempos e ritmos e novas relações sociais e novos laços de amizade dado o
afastamento de colegas e professores com quem se tinha contacto na escola, nas rotinas diárias e na imagem que ele transmite.
Contudo, constata-se um conjunto enorme de dificuldades, das quais se destacam:
dificuldades de enquadramento quando os jovens saem da escola, dificuldades
inerentes aos alunos, legislação, dificuldades inerentes às famílias, dificuldades
inerentes ao local de residência (transportes, barreiras arquitetónicas,
serviços de apoio, etc.), dificuldades inerentes ao sistema educativo
(incluindo os currículos funcionais, programas educativos individualizados
(PIT), etc), dificuldades em as empresas aceitarem estágios e empregos, etc. Neste
contexto, a escola tem
que estar atenta a todas estas dimensões e dificuldades de modo a poder
contribuir positivamente para a construção de um projeto de vida. Aí se insere
a definição de Planos de Transição para a Vida Adulta e o desenvolvimento de
currículos funcionais, assente em três grandes áreas de ação da pessoa (vida
familiar e comunitária, vida profissional, lazer e tempos livres) a que se liga
o estímulo da autonomia, a nível das habilidades necessárias para a manutenção
e desenvolvimento pessoal.
Em suma,
posso afirmar que os conteúdos lecionados e temáticas abordadas nesta ação permitiram
enriquecer-me e evidenciar alguns aspetos ligados às crianças/jovens NEE´s,
quer em termos funcionais quer em termos não funcionais, nomeadamente, a sua
importância na prática profissional e a sua relevância formativa. Depois de uma
experiência enriquecedora em 2005/2006, com uma aluna com Paralisia Cerebral
moderada, à qual ministrei um apoio individualizado acrescido, em conjunto com
toda a minha experiência com alunos NEE´s, esta ação em associação com os módulos,
instrumentos, ferramentas, recursos educativos, entre vários aspetos ministrados
e colocados ao dispor de todos os participantes, permitiu-me melhor identificar
as dificuldades que os profissionais intervenientes no processo educativo e
famílias sentem, quer na procura de soluções e estratégias a implementar para o
desenvolvimento das competências dos alunos NEE´s, tendo em conta as
características específicas do processo de ensino e aprendizagem e de transição
para a vida adulta, os contextos vivenciais do aluno, devem incluir as
seguintes variáveis:
- delinear as áreas curriculares (a casa, a comunidade, a escola, a vida de recreação e lazer, o trabalho);
- delinear os ambientes em que a sua vida se desenrola e se espera venha a desenrolar no futuro;
- delinear e inventariar os subambientes em que o aluno funciona ou pode vir a funcionar;
- selecionar, em cada subambiente, as atividades que o aluno pode (ou deve) realizar ou preparar-se para realizar no futuro;
- delinear as competências que é necessário dominar para se empreender a aprendizagem de cada atividade;
- elaborar e implementar as intervenções pedagógicas necessárias à aprendizagem das competências delineadas.
Para além da riqueza de todo o material colocado ao nosso alcance, destaco
igualmente, a importância dos vários recursos educativos disponibilizados pois
irão permitir que todas as nossas futuras tarefas em contextos diversificados não
sejam incipientes, mas providos de saberes mais aprofundados de uma realidade
que até então se mostrava desconhecida, quer no contexto das várias ferramentas
TIC quer no contexto dos recursos educativos colocados ao nosso dispor.
Claro que nem tudo se pode considerar como positivo, se o saber e a
partilha se demonstraram como peças importantes do nosso puzzle, a
acessibilidade a vários conteúdos WEB e respetivas licenças mostraram uma
realidade bem diferente das necessidades que todos temos. As várias limitações e as restrições que
algumas ferramentas TIC apresentam realçam o aspeto mais negativo em todo este
processo formativo, sendo colocado como principal interesse o comercial e não o
de permitir o desenvolvimento das crianças e jovens com dificuldades
intelectuais e motoras. Contudo, todas as potencialidades demonstradas ao longo
destes módulos permitem dizer com exatidão e objetividade, que o resultado
final é bastante positivo em todos os domínios, com a exceção do feedback
sobre a publicação dos trabalhos e apoios, direcionando, por vezes, os
participantes para inexatidões processuais e formais cometidas. Para além
deste aspeto, destaco como menos positivo, o facto da ação de formação não ser
creditada, uma vez que a sua duração, realização de trabalhos e modos de
avaliação exigiam que tal acontecesse.
Educar e viver é permitir que os nossos rumos se edifiquem em alicerces sólidos
e robustos, carregados de sentimentos, atitudes e estratégias capazes de
construir saberes e competências, partilha de experiências e desenvolvimento de
habilidades que se escondem no ser real que nos confronta e nos diz “…eu também
sou uma realidade…”